Qual o Sentido da Dança? - Parte III

O ser humano se diferencia totalmente de todos os outros seres, no que tange ao sentido de movimento da dança.
Ocorre uma espetacular química no sistema nervoso, unica em todas as espécies do planeta.
Dando continuidade em nossos estudos, vamos nos aprofundar neste universo excitante da dança e descobrir mais um pouco como ela influencia nossa existência.


Está aí, dizem os especialistas, a diferença entre o ato de dançar protagonizado pelos humanos e os movimentos ritmados que integram a rotina de diferentes espécies, de insetos a mamíferos, na aproximação para o acasalamento.
"No homem, o pensamento simbólico se sobrepõe ao concreto", afirma o neurologista Mauro Muszkat. Novamente, ele localiza essa diferença na atividade cerebral durante a dança.

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Os movimentos ritmados são resultantes de uma ação motora complexa, explica Paula Viana, neurologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os estudos da anatomia e da fisiologia do cérebro mostram que ele é quase totalmente acionado quando o corpo se movimenta de forma ritmada e intencional. Segundo Paula Viana, são estimuladas as áreas motoras (na região pré-frontal), as relacionadas com os movimentos voluntários (região frontal) e movimentos rápidos dos olhos (occipital), as áreas ligadas ao tato (pós-central), à audição e à orientação espacial (região temporal), além do cerebelo, de maior importância na coordenação dos movimentos.

Compreensão do Mundo

Mas a maior atividade neural provocada pela dança ocorre nas áreas associativas, ou seja, na integração das funções motoras e de sensibilidade, que dão significado a cada movimento praticado ou percebido. Desta forma, a dança deixa de ser simples movimento, pois serve para ampliar a capacidade sensorial e de compreensão do mundo, ao mesmo tempo que aumenta o repertório comunicativo de cada pessoa. Explica-se assim a motivação mais primitiva do homem para dançar. "O homem, desde os tempos primitivos, sentiu a necessidade de interagir pelo movimento", resume a professora do curso de dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Juçara Pinheiro. Sua colega da Unicamp, Graziela Rodrigues, acrescenta que a relação entre os sentidos promovida pela dança também ajuda o cérebro a construir a auto-imagem do corpo e esta seria uma outra razão para o homem dançar. "É uma forma de entrar em maior contato com o próprio corpo e se perceber melhor", afirma a professora.

Outro motivo está relacionado ao prazer proporcionado pela dança. A quantidade de beta-endorfina (substância produzida pelo cérebro que se transforma em endorfina e provoca a sensação de prazer) e de ocitocina (hormônio também relacionado ao orgasmo sexual) liberadas no organismo durante uma aula de balé clássico ou numa rave levam o corpo a um estado de satisfação dificilmente mensurado. Sua ausência chega a provocar sensação de abstinência que só desaparece quando a pessoa volta a dançar. O problema é que a dança, como qualquer atividade física, pode provocar lesões quando praticada de forma exagerada. E o que era para ser uma manifestação instintiva torna-se tortura.

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